sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

China e mercado apertado devem garantir 2011 de ganhos para mineradoras




SÃO PAULO – O ano de 2010 foi bastante positivo para as mineradoras. Com a China a todo vapor, a demanda por minério de ferro seguiu em alta, enquanto a oferta ainda é, de certa forma, limitada. Além disso, o novo sistema de precificação trimestral da commodity permitiu que as mineradoras se aproveitassem mais das variações do minério de ferro, ajustando melhor os preços à demanda.
Em 2011, o cenário não deve ser muito diferente: mesmo com expectativa de que o seu crescimento se desacelere, a China deve seguir impulsionando a demanda por minério de ferro. Esse fator, combinado com a oferta limitada da commodity, deve manter o mercado apertado no ano e, com isso, as cotações do minério de ferro em alta.
Para Leonardo Correa e Renato Antunes, do Barclays, esse é o primeiro dos grandes temas que deve guiar o mercado em 2011. “Acreditamos cada vez mais que as projeções para a oferta estão otimistas demais”, afirmam, lembrando que os novos projetos têm sofrido com atrasos e não têm conseguido suprir a demanda pela commodity. Eles citam dois projetos da Vale em Carajás como exemplo – ambos não só atrasados, mas também com expectativas de demoras ainda maiores, em meio a licenças ambientais e problemas de infraestrutura.
China segue em focoOutro ponto-chave é a China. “A China segue no centro do palco para a demanda global de commodities”, resume o JPMorgan sobre a importância do país asiático para os metais. Na visão dos analistas Ben Laidler e Rodolfo De Angele, o país deve seguir forte em 2011, ofuscando em parte o desempenho mais fraco dos mercados desenvolvidos.
A China deve anunciar seu plano quinquenal de crescimento no primeiro trimestre do ano, que deve, para o banco norte-americano, enfatizar novamente o compromisso do país com a urbanização e a infraestrutura. “Esperamos um crescimento de 9% para o PIB (Produto Interno Bruto) chinês em 2011, e não projetamos que o ciclo de aperto monetário afete de modo significativo a demanda por minério de ferro e aço”, completa o Barclays.
A China, segundo a dupla de análise do banco britânico, deve fechar 2010 importando cerca de 65% do minério de ferro usado por lá, e conta com minas menores e subterrâneas – ou, em outras palavras, menos competitivas. Ademais, a produção de minério de ferro no país atingiu seu pico em 2007. Já a demanda por aço e intensidade de uso do metal ainda não chegaram em seu ponto máximo, como mostra o gráfico ao lado, que avalia a intensidade de uso do aço até 2009 e sua possível evolução no país asiático daqui para frente.
Já na visão da Fator, os emergentes – em especial os asiáticos, e com destaque para a China – devem ditar o ritmo de crescimento da demanda no ano, mas não trazem somente uma forte demanda, mas também dúvidas.
“As principais incertezas com relação à China referem-se ao passo do desaquecimento econômico e à absorção interna da produção de aço, que tem sido bastante sustentada por estímulos governamentais”, explica o analista Rodrigo Fernandes em relatório. Essas incertezas, segundo ele, devem manter o mercado volátil no curto prazo.
A dupla do Barclays ressalta contudo, que para produtores de minério de alta qualidade – como a Vale – a volatilidade causada pelas flutuações da demanda é menor.
Minério de ferro em alta, mas precificação se mantémLevando em conta as expectativas para a China, o JPMorgan aposta que o minério de ferro continuará com um desempenho acima da média do mercado em 2011. Também pesou na avaliação a projeção de que a oferta da commodity seguirá apertada em relação ao aço, que deve continuar a ter uma grande sobreoferta no mercado.
No início de dezembro, os analistas Leonardo Correa e Renato Antunes, do Barclays, elevaram sua projeção para os preços de minério de ferro – agora, a expectativa é que os preços da commodity sigam acima de US$ 100 por tonelada métrica seca (dmt, na sigla em inglês) pelos próximos cinco anos. Para 2011, a expectativa é que o minério de ferro atinja US$ 160/dmt. Já para 2012, a projeção é de US$ 140/dmt.
De acordo com a dupla, cinco fatores motivaram a mudança: uma resposta mais lenta do que o esperado das mineradoras, a recuperação da demanda global, uma curva de custos mais íngreme na China, um potencial para uma performance abaixo da média da oferta indiana e uma alta na intensidade de capital do setor.
Outra equipe que elevou as projeções para o minério de ferro foi a do UBS, formada por Rene Klayweg, Marcelo Zilberberg e Onno Rutten. Considerando os preços no sistema CIF (Cost, Insurance and Freight, em que o vendedor deve acertar o transporte dos produtos por via marítma até um porto, e oferecer os documentos necessários para que o comprador obtenha a mercadoria do transportador), os preços da commodity ficaram em US$ 154 por tonelada para 2011 (mesma estimativa anterior), US$ 163 em 2012 (alta de 7%), US$ 156 em 2013 (alta de 19%) e US$ 123 para 2014 (alta de 21%).
No caso das projeções para no sistema FOB (Free on Board, sistema no qual o vendedor deve vender seus produtos em um navio designado pelo comprador), o UBS não prevê mudanças por ora.
A força da China e a fraqueza indiana também foram fatores citados por Peter Richardson, economista-chefe de metais no Morgan Stanley, como drivers para que o mercado de minério de ferro siga apertado em 2011. Segundo ele, dados da economia chinesa sugerem que o pior da queda de demanda da construção civil por lá pode ter ficado para trás.
A Link, por sua vez, destaca que os preços do minério de ferro no mercado chinês são hoje referência para todo o mundo. "Atualmente os preços estão em alta e esperamos que continuem assim", explica o analista Leonardo Alves. Para o primeiro trimestre de 2011, ele projeta uma alta de 5% nos preços da commodity. "Mais poderá vir no resto do ano", completa.
Cabe dizer que os analistas, de modo geral, não esperam fortes variações no preço do minério no ano, projetando que ele se mantenha em um patamar elevado. Também não há expectativa por uma nova mudança no sistema de precificação do minério de ferro para 2011. Com as siderúrgicas e as mineradoras ainda em discussão, as eventuais mudanças devem acontecer gradualmente. “Depende também do desenvolvimento do mercado, que precisaria ganhar liquidez e desenvolver instrumentos de hedge e derivativos de preço”, escreve Rodrigo Fernandes, da Fator, em relatório.
Cobre também tem boas perspectivasAinda entre os metais, os analistas também têm boas perspectivas para o cobre. “O cobre tem o melhor risco de upside, considerando que o equilíbrio global para 2011 pode atingir 500 mil toneladas métricas de déficit, enquanto os estoques estarão semelhantes aos do início do ano”, diz Colin Fenton, analista do JPMorgan.
O Wells Fargo também coloca o cobre entre suas recomendações overweight para o ano, apostando na demanda chinesa. Outro banco que tem uma avaliação positiva sobre o metal é o Barclays. Segundo os analistas Gayle Berry, Suki Cooper, Roxana Molina, Kevin Norrish e Nicholas Snowdon, os dados sugerem que a recuperação da demanda por cobre está ganhando ritmo, e vem superando as expectativas na América Latina, América do Norte, China e Europa. "Acreditamos que há potencial para uma forte alta da demanda no primeiro semestre de 2011", escrevem.
Regulação, câmbio, custos e M&AA Fator também lista, em relatório, outros fatores que devem influenciar o setor no ano. Entre eles, está a regulamentação da mineração, que deve ser retomada, com mudanças inicialmente direcionadas à estrutura de concessão dos diretos de lavra e da permanência dos direitos – alterações nos royalties não seriam consideradas, bem como elevação de taxas de exportação ou lucros.
O câmbio também deve seguir em pauta, já que, na avaliação da corretora, são grandes as chances de o real se valorizar no ano, podendo “limitar os efeitos positivos de eventuais aumentos de preços”. Ainda sobre os preços, a corretora cita, em relatório, a possibilidade de que o aumento dos custos de projetos de investimentos possam prejudicar o aumento da oferta de alguns metais básicos, impulsionando assim seu preço.
Por fim, é possível, na visão da Fator, que o setor veja uma retomada mais consistente do movimento de fusões e aquisições, já que as empresas estão com bons níveis de caixa.
Vale, Vale, Vale, ValeApesar de não ser a única empresa no setor, a Vale (VALE3VALE5) é de longe a companhia de mineração mais citada por analistas nas perspectivas para 2011. Depois de fechar 2010 como a ação mais recomendada em todos os meses do ano, o próximo ano também parece promissor para a mineradora.
“A Vale está bem posicionada para se aproveitar do super ciclo do minério de ferro”, escrevem Leonardo Correa e Renato Antunes, do Barclays. A dupla coloca a empresa como top pick do setor na América Latina, destacando a combinação de forte momentum de ganhos, uma plataforma de crescimento orgânico de alto retorno, uma base de ativos de baixo custo e reservas de longo prazo e um valuation atrativo.
Confira as projeções para as principais empresas do setor
InstituiçãoEmpresaTickerRecomendaçãoPreço-alvo*
ÁgoraValeVALE5CompraR$ 74,90
ValeVALE3CompraR$ 87,30
MMXMMXM3CompraR$ 24,00
BarclaysValeVALE (ADR)OverweightUS$ 46,00**
MMX MMXM3OverweightR$ 16,50**
FatorValeVALE5ManutençãoR$ 59,00
FerbasaFESA4CompraR$ 19,00
JPMorgan ValeVALE.P (ADR)OverweightUS$ 41,50
BradescoValeVALE5OutperformR$ 74,90
MMXMMXM3OutperformR$ 24,00
SLWValeVALE5CompraR$ 64,67
MMXMMXM3ManterR$ 15,88
ParanapanemaPMAM3ManterR$ 6,30
UBSValeVALE (ADR)NeutraUS$ 37,75**
LinkValeVALE3OutperformR$ 68,00
ValeVALE5OutperformR$ 60,00
* Para dezembro de 2011
**De 12 meses
“Ainda que o risco político esteja aumentando, esperamos que os fortes fundamentos e as oportunidades de crescimentos sigam como principais drivers”, apontam os analistas.
Da mesma forma, o JPMorgan também coloca a companhia entre as suas principais recomendações no setor. “Com a liderança de custos da Vale, a qualidade de suas reservas e expectativa de crescimento, acreditamos que ela está melhor posicionada para se beneficiar desse aperto [do mercado de minério de ferro]”, explica Rodolfo De Angele.
A Fator Corretora, contudo, não recomenda compra dos ativos da gigante da mineração, que recebem recomendação neutra em relatório da corretora. Apesar das perspectivas positivas para o setor, o analista Rodrigo Fernandes pondera na questão que “as incertezas que permeiam essa recuperação [da siderurgia] e a possível sobreoferta de produtos siderúrgicos e de minério reduzem as chances de aumento de preços”.
Ferbasa: expectativa de alta do ferro cromoEm relatório sobre o setor, quem ganha a preferência de Fernandes é a Ferbasa (FESA4). Isso porque, segundo ele, a perspectiva é de que a demanda de ferro cromo – um dos principais produtos da empresa – aumente no mercado doméstico, em meio a investimentos em infraestrutura e manutenção da demanda de bens de consumo e de capital.
“Com as restrições à oferta no mercado internacional, o preço do ferro cromo deve crescer significativamente, e há previsão de aumento médio de 40% em 2011”, escreve o analista em relatório. Entre os riscos para a empresa estão uma maior oferta do ferro cromo na África do Sul, pressionando os preços, demanda fraca de alguns mercados e maior competição em determinados tipos de aço.
MMX: desconto excessivo e consolidação“Os benchmarks de consolidação foram colocados, e a ação está excessivamente descontada”, resume o Barclays sobre a MMX (MMXM3). Em meados de dezembro, pouco depois de a empresa anunciar seu plano de investimentos, o banco britânico divulgou relatório sobre a companhia, onde afirmou que apesar de o capex ter vindo acima das expectativas, a empresa tem potencial de barganha para consolidar a região de Serra Azul gerando ganhos.
“Acreditamos que a MMX é a consolidadora natural da região”, dizem os analistas, listando como justificativas as operações integradas da empresa, com portas abertas para o mercado marítimo, a flexibilidade no balanço devido ao acesso competitivo a financiamentos, um histórico comprovado de consolidação, potenciais de sinergia e estratégia comercial. Na visão dos analistas, a mineradora voltará a ser um case baseado em fusões e aquisições e fundamentos.
Cabe dizer que os analistas do Barclays consideram suas projeções para a mineradora de Eike Batista conservadoras, esperando um ramp up mais lento dos volumes devido a atrasos no guidance, e sem levar em conta a potencial expansão do porto Sudeste.
Apesar de também ver um cenário positivo para a MMX, Pedro Galdi, da SLW, ressalta que a mineradora tem o desafio de fazer os investimentos necessários para se aproveitar do bom momento do setor. “No passado recente a empresa vendeu os ativos e ficou endividada, o que acabou trazendo os sócios chineses e coreanos, e agora ela vai entrar nesse projeto de expansão, e parte disso será captação em bancos – ou seja, ela vai voltar a se endividar num primeiro momento”, aponta o analista.
Para ele, existe a possibilidade de essa nova estrutura de capital não agradar o mercado - como já aconteceu no passado.
Paranapanema: colocando a casa em ordemJá para a Paranapanema (PMAM3), Galdi afirma que o ano é de “arrumar a casa”. Ele lembra que a empresa se endividou pesadamente após uma mudança de controle há alguns anos, ficando à beira da falência. Com a entrada de uma gestão profissional, que sanou dívidas e a parte fiscal, a empresa voltou a atrair investidores, mas ainda há um bom caminho pela frente. “A Paranapanema praticamente não investiu nos últimos anos, precisa ser feito um saneamento operacional”, explica Galdi.
A empresa se vê ainda com 105 direitos minerários nas mãos para avaliar, e também fica em foco quando o assunto se volta para operações de fusões e aquisições – a companhia foi alvo de uma mal-sucedida oferta da Vale, que não conseguiu participação da maioria dos acionistas e, recentemente, seu CEO (Chief Executive Officer) afirmou que a Paranapanema deve permanecer independente, mas deve vender sua unidade de fertilizantes para se focar no negócio de metais.
“O rumor de compra da Vale vai ser revivido de tempos em tempos e pode mexer com as ações. O controlador da Paranapanema quer vender, e a Vale tem interesse no smelter e na parte de fertilizantes da empresa. São ativos que teriam valor para a Vale, mas são pequenos em relação ao tamanho dela. Como é o mesmo controlador, politicamente isso pode acabar acontecendo”, diz Galdi. “Pode ser que a operação vire – enquanto isso não aconteça, ficamos na especulação”.

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