22/10/10 - 14h20
InfoMoney
SÃO PAULO - O que a forte queda do dólar frente ao real tem a ver com a BM&F Bovespa (BVMF3)? É simples, e pode ser resumido a uma única sigla: IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Em foco no noticiário dos últimos dias, a sequência de aumentos desta tributação faz saltar os olhos do mercado, que teme umafugentamento dos investidores estrangeiros no País, o que se reflete nas fortes quedas registradas pelos papéis ordinários da BM&F Bovespa nesta semana, já que os estrangeiros representam expressiva fatia do giro financeiro na bolsa brasileira.
A baixa acumulada por estes papéis na semana chegou a 10,03% após o fechamento da sessão de quinta-feira (21). Com esta performance, as ações da companhia são o segundo maior destaque de baixa do Ibovespa nesta semana, atrás apenas dos papéis da Cyrela (CYRE3), que, por sua vez, caíam 10,68% até a véspera.
Imposto maior
Na última segunda-feira (18), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou novas medidas para conter a apreciação do real. Foi adotado pelo governo um aumento da alíquota de IOF tanto para investimentos em renda fixa quanto para as margens de garantia de aplicações no mercado futuro.
Há duas semanas, o governo já havia elevado a alíquota sobre investimentos externos em renda fixa de 2% para 4%, que agora passou a 6%. A grande novidade, porém, ficou por conta do aumento da taxação para a cobertura das margens de garantia de operações no mercado futuro da BM&F, que passou de 0,38% para 6% para estrangeiros. Por sua vez, a alíquota para a entrada de investimentos externos na renda variável permaneceu inalterada em 2%.
A medida não bastou. Na última quinta-feira (21), o CMN (Conselho Monetário Nacional) publicou resolução proibindo as instituições financeiras autorizadas pelo BC a realizarem aluguel, troca ou empréstimo de títulos, valores mobiliários e ouro como ativo financeiro a investidores estrangeiros que pretendam utilizar os recursos obtidos com operações nos mercados de derivativos. A medida tem como objetivo fechar brechas pelas quais investidores externos poderiam escapar da cobrança de 6% de IOF.
Para analistas, impactos são limitados
Em geral, as análises do mercado ante as medidas do governo se voltam para impactos limitados aos resultados da BM&F Bovespa, o que alimenta a ideia de que as recentes baixas refletem apenas um susto dos investidores, perdidos no meio da guerra cambial. "Acreditamos que a receita operacional da companhia será pouco afetada, mas as medidas adotadas pelo governo geram insegurança aos investidores, o que poderá ocasionar uma maior volatilidade das ações da empresa no curto prazo", avaliam os analistas Jacqueline Lison, Mateus Renault e Luis Guilherme Fonseca, da Banco Fator Corretora.
Na mesma linha, a Itaú Corretora, em análise de Alexandre Spada, diz que a alta do IOF pode ter um ligeiro efeito negativo sobre o ADTV (volume médio diário de negócios, na sigla em inglês) incremental esperado para os próximos períodos, porque a negociação adicional de derivativos agora será mais onerosa para esta categoria de investidores. A recomendação da corretora para as ações BVMF3 é de market perform, com preço-justo para o final de 2011 em R$ 17,60. "No entanto, é importante salientar que o risco regulatório não será dissipado até que as autoridades locais estejam mais confortáveis com a taxa de câmbio."
“Somente quem opera no segmento BM&F, como o giro de capital estrangeiro, sentiu o impacto. É importante ressaltar que ainda tem muitos dólares para entrar no país e se caso isso ocorrer o governo precisará tomar novas medidas”, relatou o diretor da Turmalina Corretora, Gustavo Colloca. "Estamos no meio de uma guerra cambial, mas é preciso ter em mente que as medidas são passageiras e que antes das eleições, dificilmente uma medida mais drástica será tomada", completou.
A Fator observa em seu relatório que mesmo com o claro posicionamento do governo contra a forte apreciação do real, o mercado deverá seguir encontrando formas de "tornear" as taxações mais elevadas aos investimentos externos. "As novas regras são negativas no curto prazo, mas continuamos otimistas quanto ao desempenho da BM&F Bovespa no longo prazo", completaram os analistas. A Banco Fator Corretora manteve sua recomendação de compra para as ações, com preço-alvo de R$ 18,50 para junho de 2011.
De acordo com o BTG Pactual, o mercado já havia antecipado parcialmente a implementação de novas medidas para barrar a entrada de dólares, embora não houvesse clareza sobre quais seriam elas. Segundo o banco, o impacto deve ser tão suave quanto o aumento anterior. Paralelamente, o banco Santander prevê um resultado “moderado ou nulo”, já que o Brasil segue o mesmo movimento de outros países: uma entrada maciça de dólares devido à política monetária expansionista dos Estados Unidos. Também no longo prazo “os efeitos não devem ser persistentes”.
A equipe do Credit Suisse também avalia que as previsões não podem descartar a determinação do governo brasileiro em conter a valorização do real. “Entendemos que a dinâmica de curto prazo continuará sendo afetada pelos anúncios já feitos pelo governo e pelo risco de novas medidas nas próximas semanas”, disse o banco de investimentos.
Há quem veja que desta vez haverá impacto
Mesmo o anúncio anterior tendo surtido poucos efeitos, a visão do Barclays é que com a nova elevação do IOF será diferente. Para o banco, a expectativa é que o mercado liquide suas posições em renda fixa, tanto por uma demanda adicional de spread pelos investidores estrangeiros quanto por um ajuste do portfólio.
Já a corretora Ativa acredita que, desta vez, devem ser sentidos impactos reais já no curto prazo. Para a corretora, o impacto direto no mercado de derivativos deve ser sentido mais profundamente pelos investidores.
Bolsa tranquiliza investidores
Buscando tranquilizar os investidores, os diretores da BM&F Bovespa afirmaram que o impacto das novas medidas para restrição a aluguel de derivativos e da utilização de carta de fiança como garantia por estrangeiros será limitado.
De acordo com Eduardo Guardia, diretor-executivo financeiro e de relações com investidores da Bolsa, os estrangeiros representam 5% do volume total de operações de aluguel, troca ou empréstimo de ativos, restritas pela resolução 3.914 do CMN, que foi publicada no Diário Oficial da União na quinta-feira.
“Do ponto de vista do nosso negócio, as restrições sobre operações de BTC (empréstimos de títulos) terão um impacto limitado” reforçou Guardia em teleconferência realizada na véspera. Entretanto, será preciso esperar entre 15 e 20 dias para ter maior precisão sobre os impactos da medida, ressaltou Edemir Pinto, diretor presidente da BM&F Bovespa.
“As medidas são complementares; visam operacionalizar o decreto [anterior] e torná-lo mais efetivo”, afirmou Guardia. Quando questionados sobre a possibilidade de novas medidas de restrição a investimento estrangeiro no Brasil, especialmente em renda variável, os diretores foram evasivos: “quem tem que responder sobre isso é o Governo”.
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